Mas porque existem os que comandam e os que se submetem? Atribui tal coisa à existência de uma força que se desenvolve com padrões diferenciados em cada humano. Da análise desse padrão seria possivel dizer porque algo ordena e porque algo é ordenado. Mais intrigante: é possivel dizer porque algo descumpre tal ordem, não levando em consideração fatos exteriores ao organismo humano;mas somente essa força que preexiste ao indivíduo, e que, de sua qualidade deflui o comportamento humano, apto ou não para descumprir a ordem. Aptidão essa que me socorro de uma vez por todas aos geneticistas". (TRICKSTER, Wolfgang, Do Conceito Genético de Crime, ED Única, Confederação, 2055)
O por quê do Trickster:
Quando pela primeira vez Jung encontrou a IMAGEM do trickster, lembrou da tradição do carnaval com sua impressionante inversão da ordem hierárquica e das normas medievais, ocasião em que o diabo aparecia como “o macaco de Deus”. Encontrava no trickster uma notável semelhança com as figuras alquímicas de Mercúrio, com sua predileção por chistes e anedotas ardilosos e por brincadeiras maliciosas, com seu poder para mudar de forma, sua natureza dual (meio animal / meio divino), a compulsão a uma ininterrupta exposição à privação e tortura, bem como uma aproximação à figura de um salvador. Apesar de ser um HERÓI totalmente negativo, o trickster consegue, através de sua estupidez, o que outros deixam de conseguir mediante um esforço concentrado.
Entretanto, como Jung descobriu, o trickster é tanto uma figura mítica como uma experiência psíquica interna (ver MITO). Onde e sempre quando aparece, e mesmo se exteriormente inexpressivo, traz a possibilidade de transformar o sem-sentido
Psicologicamente, Jung via a figura do trickster como um equivalente da SOMBRA. “O trickster é uma figura de sombra COLETIVA, uma somatória de todos os traços de caráter inferiores nos indivíduos” (CW 9i, parág. 484). Entretanto, sua aparição é mais que a evidência de um traço residual herdado de primitivos ancestrais. Como no Rei Lear, seu aparecimento deve-se a uma dinâmica existente na própria situação. Quando o Rei vagueia louco em resultado de suas próprias asneiras, arrogantemente conscientes, seu companheiro é o Bobo “mais sábio”.
Não obstante, a imagem do trickster quando constelada significa que uma calamidade aconteceu ou criou-se uma situação perigosa. Quando o trickster aparece em SONHOS, em PINTURAS, em eventos sincronísticos, lapso da fala, em projeções de fantasia e acidentes pessoais de todos os tipos, uma energia compensatória foi liberada (ver SINCRONICIDADE). A identificação da figura é, porém, apenas o primeiro passo para sua INTEGRAÇÃO. Com a emergência do SÍMBOLO, chama-se atenção para o estado inconsciente destrutivo original, que porém ainda não está superado. E, uma vez que a sombra individual é um componente permanente da personalidade, jamais pode ser eliminada. A figura coletiva do trickster reconstrói-se continuamente, manifestando o poder e a numinosidade energizantes das possíveis imagens de salvador (ver PERSONALIDADE MANA; NUMINOSO).
Jung descobriu a figura do trickster